Primeiramente precisamos compreender que alfabetização e letramento são diferentes, mas não podem estar isolados. Alfabetização é a descoberta do código escrito e como funciona esse código. É um processo finito e pronto, onde as crianças aprendem as letras que reproduzem sons. É a representação da linguagem.
Já o letramento está ligado às praticas sociais em torno da leitura e escrita. É um processo coletivo e infinito. O letramento vem antes da alfabetização e continua infinitamente depois. Ser letrado não significa apenas saber ler e escrever, mas como o indivíduo irá fazer uso da leitura e da escrita. Existem níveis de letramento, por exemplo, quando uma criança está acostumada a ver os pais lendo e ela lê bula de remédio ou receitas ela está em um nível de letramento maior do que a criança que apenas sabe escrever seu nome.
É importante se aliarem os dois processos, alfabetizar e letrar, pois a criança alfabetizada aprende o alfabeto e o sistema da escrita em geral, mas é necessário que a alfabetização ocorra dentro de um contexto de letramento, para desenvolver maiores habilidades do uso da leitura e escrita em suas práticas sociais.
Segundo Magda Soares, a concepção de ensino da língua escrita em que se baseavam a França e Estados Unidos, no final dos anos 80 e anos 90, valorizava o ensino direto e sistemático do sistema fonológico. Nessa concepção valorizavam apenas as formas de alfabetizar. Em contraposição, no Brasil, houve o surgimento do Construtivismo em que se tinha uma concepção holística da aprendizagem da língua escrita, em que aprender a ler e escrever é aprender a construir sentidos para os textos, usando experiências do individuo.
Essa teoria construtivista, em que se baseia Jean Piaget, coloca o sujeito da aprendizagem no centro do processo, onde ele mesmo constrói seus pensamentos, procura compreender o mundo e resolver as interrogações deste mundo. Esse sujeito (criança ou adulto) aprende através das próprias ações sobre o objeto.
Essa visão construtivista privilegia o letramento em que a criança é capaz de descobrir sozinha as relações entre fonemas e grafemas, quando interage com a escrita, e através das práticas de leitura e escrita. Houve um momento em que existiu uma supervalorização da idéia do letramento, achando que não precisaria mais da alfabetização.
Podemos refletir em cima desses aspectos, onde alfabetizar e letrar são processos indissociáveis e não são independentes. A concepção tradicional de alfabetização entende os dois processos como independentes. É importante que sejamos capazes de compreender as duas dimensões da aprendizagem integrando alfabetização e letramento, uma vez que não há um método para aprendizagem da língua escrita e sim múltiplos métodos. E para ser possível integrar esses dois aspectos é necessário que ocorra uma transformação na formação dos professores e instituições de ensino.
Larissa dos Reis M. Teixeira (Estudante do curso de Pedagogia da UFRJ)
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